A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de manter a Selic em 2% ao ano em um momento de pressão inflacionária acentuou ainda mais a trajetória de juros reais negativos do país. No entanto descontando a inflação projetada para os próximos 12 meses, os juros estão negativos em 1,69%, segundo cálculo feito por Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management.
Só o Brasil tem juro real negativo?
Não. Bancos centrais do mundo todo fizeram um movimento de corte de juros durante a pandemia para estimular a economia. Portanto em um ranking com 40 países, só seis têm juros reais positivos: Turquia, Indonésia, Rússia, China, México e Malásia. Todos os outros estão com juros reais negativos.
Por que esse cenário traz um alerta?
Jason Vieira diz que o Brasil vem caindo rapidamente no ranking de países com juros mais negativos. Ou seja, em junho, quando o Brasil teve juro real negativo pela primeira vez, ele era o 14º do ranking – agora, passou para 28º.
“O país já foi o primeiro do ranking e hoje está em 28º lugar. É uma queda bem pesada. Se não fosse pelo fluxo de ETFs e do fluxo de dinheiro para mercados emergentes, com essa taxa, o país praticamente não tem atração para o investidor estrangeiro.”
Mas o dinheiro estrangeiro não está retornando?
Vieira diz que não é bem assim. O que voltou é o hot money, um dinheiro que entra e sai com uma velocidade considerável. Não é resultado de um fluxo específico de capital direto do investidor de colocar dinheiro no Brasil.”
Como os juros reais negativos impactam os meus investimentos?
A rentabilidade de muitos fundos conservadores, que acompanham o rendimento dos títulos públicos e que já vinha em queda por causa da redução da Selic, passa a ser negativa. Ou seja, quando se considera a inflação do período, o investidor perde dinheiro no horizonte de um ano, sem falar no quanto paga de taxa de administração. Muitos recursos estão aplicados nesse tipo de investimento no Brasil.