O rali que superou a maioria das previsões e deixou a bolsa brasileira no azul em 2020 pode ter mais espaço para ganhos.
Com o Ibovespa perto da máxima histórica, estrategistas preveem que o índice pode terminar 2021 em 130.000 pontos, ou cerca de 9% acima dos níveis atuais, segundo estimativa mediana de uma pesquisa da Bloomberg com 12 profissionais. As projeções variam de 118.000 a 135.000 pontos.
Muito do otimismo se apoia em uma perspectiva mais favorável para a recuperação econômica global, com a expectativa de campanhas de vacinação contra o coronavírus, preços de commodities em alta e investidores ávidos por investimentos de maior rendimento em um mundo de juros baixos.
O cenário mais positivo para ativos de risco tem impulsionado entradas de investimento estrangeiro em ações de países em desenvolvimento: a bolsa brasileira atraiu cerca de R$ 50 bilhões desde novembro.
Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, disse que os mercados emergentes voltaram ao centro das atenções, sendo que algumas ações cíclicas e com desconto agora atraem maior interesse de estrangeiros. Segundo ele, embora o mercado tenha se recuperado bastante rápido e alguns riscos permaneçam no horizonte, a visão ainda é “construtiva”.
O desempenho do Ibovespa ficou abaixo de todos os outros índices acionários de referência rastreados pela Bloomberg em mais de uma vez ao longo de 2020 e ainda acumulou baixa de 20% em dólares. O país foi particularmente atingido pela pandemia: os casos de Covid-19 ultrapassam 7,5 milhões e o PIB deve encolher 4,6%, o que leva empresas brasileiras a suspenderem estimativas e preservarem caixa.
Resultados corporativos
Para 2021, o Bank of America espera que a recuperação dos resultados corporativos no Brasil seja liderada por ações de matérias-primas, finanças e energia. Em relatório do início de dezembro, o estrategista David Beker disse que a forte recuperação dos lucros por ação e altos níveis de caixa criam oportunidade para um novo ciclo de investimentos.
As ações brasileiras estão sendo negociadas a 13,1 vezes o lucro projetado, acima da média de cinco anos de 12,5 vezes, segundo dados compilados pela Bloomberg. Segundo o Santander, o mercado local deveria ser negociado acima dos múltiplos históricos em função dos juros mais baixos, que permitem uma redução no custo de capital e têm levado os brasileiros a apostarem em ações.
A realocação dos ativos domésticos para a renda variável “é uma realidade que deve continuar nos próximos trimestres”, segundo o estrategista do Santander, Daniel Gewehr. O banco reiterou o Brasil como principal posição overweight na América Latina, segundo relatório recente.
Riscos
Os riscos para o quinto ganho anual consecutivo do mercado incluem os conhecidos problemas fiscais do país, potencial crescimento abaixo do esperado – com o término da ajuda emergencial do governo a trabalhadores informais – e a inflação, que pode levar o Banco Central a aumentar a Selic antes do esperado.
Em relatório de 1º de dezembro, estrategistas do BTG Pactual liderados por Carlos Sequeira destacaram que, com o cenário favorável nos mercados globais, apenas uma gestão desastrosa da delicada situação fiscal do país poderia “estragar a festa”.