Quem nunca ficou com a sensação de que a inflação oficial do Brasil não condizia com a alta dos preços vistos nas prateleiras? Esta diferença de percepção tem uma explicação e está relacionada à forma como o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é calculado.
Como funciona o cálculo do IPCA? O IBGE (Instituto de Geografia e Estatística) considera o impacto dos preços para famílias de um a 40 salários mínimos com qualquer fonte de renda, que morem nas áreas urbanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.
O indicador aponta para a alta média dos preços no Brasil, considerando diversas atividades e setores da economia, como alimentação, habitação, comunicação, transportes, entre outros.
Afinal, por que essa diferença de percepção existe? “Como o IPCA é um indicador nacional, que agrega diversas atividades econômicas, ele acaba não ponderando as peculiaridades na cesta de consumo das famílias”, afirma a analista da Toro Investimentos Stefany Oliveira.
Em 2020, o preço dos alimentos e bebidas foi um dos que mais pressionou o IPCA. Arroz, óleo de soja e carnes, sempre à mesa dos brasileiros, foram alguns dos itens que ficaram mais caros. Apesar disso, nem todos os produtos medidos pelo IPCA tiveram o mesmo movimento.
“Dá a impressão para o consumidor de que os preços como um todo sobem na mesma velocidade para os itens consumidos, mas não é o que de fato acontece”, afirma o professor de MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas) Mauro Rochlin.
Quem é mais afetado pela inflação? Quando há um aumento muito forte nos preços dos alimentos ou transportes, por exemplo, as famílias de renda mais baixa sentem mais do que as mais ricas. Segundo uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgada em dezembro, os gastos com alimentos correspondem a 28% do orçamento dos mais pobres, percentual que caí para 13% para os mais ricos.
O IPC-C1, por exemplo, é um indicador divulgado pela FGV que mede o impacto da inflação para famílias de um a 2,5 salários mínimos, acumulou alta de 6,3% no ano.
“Normalmente esses índices evoluem de maneira parecida, mas quando você tem uma variação maior em consumo básico, a população de baixa renda é a mais afetada”, afirma a coordenadora do Núcleo de Estudos da Conjuntura Econômica da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), Nadja Heiderich.
A perda do poder de consumo também impacta na sensação de que tudo está mais caro, já que nem sempre a renda é reajustada na mesma proporção do aumento dos preços.