Durante a pandemia de coronavírus, como resultado o real chegou a valer 35,5% a menos do que deveria em relação a outras moedas, mostra estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
O cálculo, realizado pelos professores Emerson Marçal e Oscar Simões; com base no que seria o câmbio ideal para não provocar problemas nem no setor externo (balança comercial e investimentos do Brasil com outros países); nem na economia doméstica (em especial taxa de desemprego e inflação).
No entanto esse valor é autodenominado de taxa de câmbio de equilíbrio. Em março, quando a crise começou, a nossa moeda ficou mais de 35% abaixo desse câmbio, uma das maiores discrepâncias desde a década de 80.
A diferença foi se reduzindo, portanto, alcançou 23,9% em junho, último mês para o qual é possível fazer essa conta. Para se ter uma ideia do que representa essa desvalorização, em 2019 a nossa moeda estava 6,3% mais valorizada do que o ideal.
“A taxa de câmbio de equilíbrio é aquela consistente com um bom equilíbrio macroeconômico. O equilíbrio doméstico, com desemprego baixo e a economia em uma situação tranquila, externo, sem problemas de conta corrente”, explica Marçal.
O impacto do câmbio sobre a economia
Certamente o valor do câmbio é um dos fatores de maior impacto sobre vendas externas ou compras de outros países: se está desvalorizado, como acontece hoje, estimula exportações e desestimula importações. Se está muito forte, tem efeito contrário.
Já no mercado doméstico, se o real está muito fraco, acaba impulsionando a inflação. Isso porque quando vale muito a pena exportar para outros países, sobra menos produção para atender à demanda local, o que tende a encarecer os alimentos, por exemplo. Também fica mais caro importar, o que também é modifica para preços.
Na avaliação de Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da FGV-SP, o câmbio ideal para não provocar estragos de um lado ou do outro estaria entre R$ 4,90 e R$ 5,10.
Ele explica que, além da pandemia em si, a depreciação do real em relação a outras moedas está relacionada com a incerteza fiscal (ou seja, dúvidas sobre a capacidade do Brasil de manter o ajuste das suas contas no futuro) e com o fato de que a taxa básica de juros está no piso histórico (fica menos atrativo para o investidor aplicar no país).
Inflação de alimentos
Então, efeito do real fraco sobre a inflação está sendo sentido sobre os preços dos alimentos.
No último mês, arroz, farinha, leite e óleo de soja tiveram alta de mais de 30%; dando um susto no consumidor que precisou comprar o básico.
“Os efeitos colaterais de um câmbio fraco são principalmente sobre a inflação. Bens que estão sendo muito exportados sobem, como óleo de soja e arroz. Isso aumenta o custo de vida das pessoas”, aponta o pesquisador.
Além do câmbio desvalorizado, essa alta nos preços de alimentos foi causada por uma demanda maior por alimentos no mercado internacional, puxada principalmente pela China, e um consumo aquecido dentro do Brasil, por causa do pagamento do auxílio emergencial.