Na contramão do que costuma acontecer todos os anos, maio foi muito bom para a bolsa, que encerrou o mês com alta expressiva de 8,5%, a 87.402 pontos.
Tradicionalmente, o costume dos investidores estrangeiros de vender seus papeis antes do verão faz com que o quinto mês costume fechar no negativo –entre 2010 e 2018, por exemplo, o Ibovespa encerrou o período em queda.
Neste ano, entretanto, o processo de reabertura das economias pelo mundo após o isolamento social imposto pelo coronavírus e os avanços em vacinas contra a infecção animou os investidores e inverteu esse jogo.
O mesmo movimento foi observado em vários países emergentes, mostra levantamento da agência de notícias Bloomberg. Isso aconteceu por causa da retomada da atividade econômica em países da Europa e regiões dos EUA e otimismo com possíveis vacinas para o tratamento da covid-19.
“Como a confiança do investidor parece melhorar lentamente, parte desse dinheiro parece voltar pouco a pouco aos ativos sensíveis da economia”, avaliou Khiem Do, responsável por investimentos na Grande China na Barings, em Hong Kong.
Parte dos analistas acreditam que esse movimento deve se manter em junho, já que os papeis dos países em desenvolvimento, que caíram muito durante o auge da crise, estão baratos para o mercado.
No cenário doméstico, o Ibovespa ganhou tração após a divulgação do vídeo da reunião ministerial em que o presidente Jair Bolsonaro fala que vai interferir na Polícia Federal e órgãos de inteligência. O conteúdo não foi considerado tão bombástico pelo mercado, que vinha precificando até um eventual impeachment.
O principal índice da bolsa brasileira fechou esta sexta com alta de 0,52%. No acumulado do ano, a perda ainda é grande: 24,4% de queda.
China x EUA e PIB
Isso não quer dizer, entretanto, que o pior já passou para os emergentes. A série de sanções avaliadas pelos Estados Unidos para punir a China por interferência na cidade autônoma de Hong Kong, por exemplo, foi um dos motivos para a bolsa ter começado o pregão de hoje em queda.
“Parece haver uma grande desconexão entre os mercados financeiros e a economia real, e até as ameaças geopolíticas parecem ter apenas impactos menores e temporários nos mercados”, disse Rob Carnell, economista-chefe para Ásia-Pacífico no ING Groep, em Cingapura. “Existe muito otimismo? Eu diria que sim.”
Nesta sexta, o presidente americano, Donald Trump, afirmou que tomará medidas, incluindo sanções, por causa da lei de segurança que aumenta o controle da China sobre Hong Kong. Apesar disso, o mandatário disse que o acordo comercial entre os dois países está mantido, o que fez a bolsa passar a subir no final da tarde.
PIB em queda
Além do clima tenso entre os dois gigantes, a divulgação de que o PIB brasileiro encolheu 1,5% no primeiro trimestre, apesar de o impacto do coronavírus só ter sido sentido por quinze dias em março, também desanimou o mercado hoje.
Um dado chamou a atenção dos investidores: o consumo das famílias despencou 2%, na contração mais acentuada desde 2001.
Sell in may and go away
A “maldição” de maio, por assim dizer, tem a ver com o fato de que nos EUA e na Europa, muitos investidores tradicionalmente saem da bolsa no período, realizando seus lucros antes do verão e só voltam no outono.
Existe até um ditado que diz sell in may and go away (venda em maio e vá embora), que era usado por aristocratas e banqueiros do Reino Unido –em maio, eles saíam de Londres durante os meses quentes e só voltaram no outono para a capital.