A princípio, o jogo parece desigual: afinal de contas, um grama de ouro basta para comprar 70 gramas de prata.
Mesmo assim, o fato é que o primo pobre do metal precioso mais famoso do mundo já se valorizou quase duas vezes o ouro no acumulado de 2020, e vem sendo olhado com atenção cada vez maior por investidores interessados em proteção de patrimônio.
Porto seguro em tempos instáveis, o ouro se tornou uma das aplicações estrela da pandemia. O contrato futuro da commodity, usado como referência de preço, se valorizou 26,6% do início de janeiro até esta quinta (dia 13), a US$ 1.963,10 a onça troy (medida que equivale a 31 gramas).
Mas o metal amarelo teve que dividir o brilho, com o perdão do trocadilho, com a prata, que já acumulou uma alta muito maior no período, de 52,6%, a US$ 27,6 a onça troy, segundo dados do Investing.com.
Por que a prata se valorizou mais do que o ouro? Em primeiro lugar, o mercado se deu conta que a cotação não tinha subido na mesma proporção que a do ouro: a alta mais pronunciada é recente, aconteceu do mês passado para cá.
“Em geral, as cotações de ouro e prata andam juntos. Servem para proteção em momentos de crise, e são alternativas ao investimento em câmbio, por exemplo. Mas o ouro havia subido muito mais, a prata estava atrasada, por assim dizer”, explica Rodrigo Knudsen, gestor da plataforma de investimentos Vitreo.
Além disso, apesar de a prata ser considerada uma reserva contra tempos difíceis, também é bastante demandada para uso industrial. A retomada recente da economia mundial aumentou a procura pelo metal, que tem um uso prático muito mais amplo do que o ouro: é empregado em uma série de aplicações, como painéis solares, filtragem de água e condutores elétricos, entre outros.
Quais os cuidados que se deve ter com a prata como investimento? Como a cotação da prata não é influenciada somente pela demanda dos investidores por ativos seguros em épocas de crise, é importante saber que a volatilidade dela é maior.
“É importante saber que nenhum ativo é super seguro. Só há uma aplicação que entra nessa categoria de super seguro, que são títulos públicos. Só que atualmente eles rendem muito pouco”, alerta Knudsen, da Vitreo. “Metais como ouro e prata são voláteis”.
Como investir em prata no Brasil? Uma opção é usar um fundo de investimento no Brasil, opção que começa a ser considerada pelos principais gestores.
De olho no aumento do interesse pelo metal, a Vitro, por exemplo, lançou no final de julho o Vitreo Prata FIM, fundo que investe 100% da carteira em prata.
“Em apenas 10 dias, já temos um patrimônio de mais de R$ 40 milhões”, afirma Knudsen. A aplicação tem um investimento mínimo de R$ 1 mil, e taxa de administração de 0,25% ao ano.
Outra possibilidade é ter uma conta em uma corretora estabelecida no exterior, e ter acesso a infinitas opções de investimento em prata no mercado financeiro internacional.
Por que a demanda por ouro e prata cresceu tanto? A forte procura por metais preciosos em tempos de crise é histórica. “Essa proteção dada pelos metais preciosos acontece há 2.000 anos. É um padrão de se atribuir reserva de valor a alguns ativos, que na hipótese de um apocalipse zumbi pode virar moeda de troca”, brinca Knudsen.
Desta vez, entretanto, esse processo foi intensificado por causa da perda de valor do dólar. Durante a pandemia, a moeda americana perdeu parte do cartaz que possuía como uma boa alternativa de proteção: depois de subir para um valor recorde em março, passou a se desvalorizar, com perdas aceleradas nas últimas semanas por causa do avanço da infeção nos Estados Unidos.
Outra aplicação conservadora, os investimentos lastreados em títulos públicos, também perderam atratividade porque muitos países passaram a praticar juros negativos quando se considera a inflação do período.