Se as contas públicas do Brasil não atrapalharem, o real, que no entanto é uma das divisas que mais perderam valor neste ano de pandemia, pode ser uma das moedas mais beneficiadas pelo derretimento do dólar projetado para acontecer a partir do ano que vem.
Portanto a recente divulgação de eficiência acima de 90% de duas vacinas, a da Pfizer e a da Moderna, fez com que alguns bancos passassem a apostar em uma queda bem expressiva da divisa no mundo, de até 20% em 2021.
Se as vacinas forem distribuídas de forma maciça, ou seja, e esperado, que o comércio global e o crescimento das principais economias serão retomados. Se soma a isso um cenário em que o Fed (banco central americano) já indicou que manterá os juros em níveis mínimos por bastante tempo, o que também exerce pressão baixista na divisa dos Estados Unidos.
Em relatório divulgado nesta segunda-feira (dia 17); o Citigroup apontou que o valor do dólar em relação a uma cesta de moedas pode se reduzir em até um quinto do observado hoje. A instituição espera que, além desse impacto dos avanços nas vacinas e do Fed, a economia mundial deve acelerar seu ritmo no ano que vem, com os investidores tendendo a buscar ativos mais rentáveis e arriscados pelo mundo.
Para os analistas do banco, “há muitos motivos para ser otimista” no desenvolvimento de vacinas; e a distribuição “irá catalisar a próxima etapa de baixa na tendência de baixa estrutural do dólar dos EUA que esperamos”.
O Citi não é o único banco a projetar esse recuo. Em outro relatório, o Goldman Sachs, apesar de uma projeção bem menos ambiciosa, acredita que a moeda pode cair 15% em termos reais (descontada a inflação do período) até 2024.
As chances de o real cair
Se esse cenário se confirmar, o real teria, em tese, todas as chances de ser particularmente beneficiado.
Há algumas razões para isso: a moeda brasileira foi a quinta que mais perdeu valor em relação ao dólar neste ano; até agora, o recuo já é de mais de 25%. O Brasil só perde, nesse “ranking da depreciação”, para o bolívar venezuelano, a rúpia indonésia, o gourde haitiano e o peso argentino.
O real já foi, chamado de uma moeda “bem barata” pelo Deutsche Bank, por exemplo. Para o Goldman, o câmbio na América Latina se coloca como um destaque em termos de espaço para apreciação, com o real sendo o principal expoente dessa tendência.
Mas será que isso vai se concretizar? Apesar de o cenário parecer promissor, há uma ressalva muito importante, que é o risco de descontrole das contas públicas.
“Acho que o dólar pode ceder em 2021, principalmente com as vacinas. Os mercados vão voltar a se recuperar e as economias tendem a crescer”, afirmou ao 6 Minutos Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.
Apesar disso, ele faz a ressalva de que a melhoria da economia mundial não é garantia de nada.
“Tudo vai depender do fiscal, de como vai ser a questão do orçamento de 2021, como será a agenda de reformas, as privatizações. Não adianta o mundo estar bem se não estamos bem, se não fazemos a lição de casa”, pondera.